O XII Congresso do SINTAP, reunido em Lisboa, nos dias 7 e 8 de outubro de 2022, depois de analisar a atual situação política, económica, social e sindical, numa perspetiva integrada mas especialmente focada nos trabalhadores que representa e na proposta plurianual apresentada pelo Governo no âmbito do processo negociação geral anual para a Administração Pública, considera que:
Lisboa, 8 de outubro de 2022
Aprovada por unanimidade e aclamação
O ano de 2023 reveste-se em todo o mundo em geral e na União Europeia em particular, de elevada incerteza económica, arrastando, obviamente, a frágil e endividada economia portuguesa. À incerteza económica acresce uma enorme instabilidade política devido à guerra injusta provocada pela invasão da Rússia a um país soberano, a Ucrânia, e ao recrudescer dos nacionalismos europeus.
Vivenciamos também graves dificuldades advenientes do elevado, e por enquanto incontrolado, ciclo inflacionista que tem arrastado inexoravelmente os rendimentos dos trabalhadores para perdas elevadíssimas de poder de compra. O controle do ciclo inflacionista acarretará uma elevação dos juros como foi já indicado pelo BCE (Banco Central Europeu) e, por essa via, principalmente em Portugal os custos da habitação podem ser incomportáveis para a maioria dos trabalhadores portugueses e suas famílias.
Os índices de pobreza em Portugal apresentam já, com os dados disponíveis, elevados riscos de agravamento, mas por detrás dos números há pessoas concretas e famílias que poderão ser lançadas para vulnerabilidades sociais que devem ser acauteladas desde já na elaboração do Orçamento do Estado e nas políticas publicas de apoio aos mais vulneráveis, nomeadamente idosos, crianças e um elevado número de reformados e pensionistas.
Os trabalhadores portugueses têm vindo a ver os seus rendimentos em constante desvio com os ganhos de produtividade e também no pós-pandemia a serem literalmente obliterados com os elevados índices de inflação. Neste sentido, e apesar das incertezas macroeconómicas, os trabalhadores e suas famílias não podem ver agravadas as suas condições de vida e poder de compra e deve ser encarada uma nova estratégia política para com o elevado desemprego dos jovens.
Por todo o exposto, sem prejuízo das reivindicações anteriores, nomeadamente as resultantes do Congresso de Abril de 2022, e atendendo ao elevado grau de incerteza, a UGT, responsavelmente, elaborou o presente documento de Política Reivindicativa para o ano de 2023, suscitando que continuamente se proceda às correções tidas por convenientes, através de um necessário acompanhamento, em diálogo social e em sede de CPCS-Comissão Permanente da Concertação Social.
I - Enquadramento Macroeconómico e Estratégico
II - Proposta de aumento de salários
III - Valorização do Salário Mínimo
IV - Política Orçamental e fiscal deve acomodar o efeito da subida generalizada dos preços
V - Proteger as famílias do encarecimento do crédito, intervir para a protecção das casas e hipotecas
VI - Dar mais futuro à segurança social para proteger melhor os trabalhadores, reformados e pensionistas
VII - Reforçar a contratação coletiva, exigir salários dignos
VIII - Revalorizar a concertação social para tornar Portugal mais inovador e mais justo
Leia o documento na íntegra no link abaixo
No Secretariado Nacional realizado, na sua sede em Lisboa, a UGT aprovou por unanimidade e aclamação, uma Resolução, na qual abordou as seguintes questões:
− A UGT exorta o Governo a promover com urgência alterações nos mecanismos fiscais de formação de preços dos bens alimentares e nos combustíveis domésticos.
− A UGT exorta o Governo a encontrar, em diálogo social alargado, mecanismos de resposta à reposição do poder de compra para todos os ativos e para os reformados e pensionistas já no corrente ano.
− A UGT exorta o Governo que, a exemplo do que foi implementado nas grandes áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, se promovam, também para o interior, verdadeiras políticas de transportes coletivos eficazes que, não só fomentem a mobilidade como também permitam minimizar os encargos dos trabalhadores nas deslocações de casa para o trabalho e vice-versa. Quando tanto se fala na valorização do interior é inadmissível que em muitas dessas regiões, pura e simplesmente, não exista qualquer modo de transporte coletivo.
− A UGT exorta os Parceiros patronais à total disponibilidade negocial bilateral na procura de um mecanismo extraordinário de negociação e contratação colectiva de modo a repor a justiça social necessária ao bom desempenho da economia e de incremento do mercado interno ainda durante o corrente ano para repor as injustiças produzidas pela inflação.
− A UGT reitera a sua inteira disponibilidade para firmar o Acordo de Concertação Social de médio prazo que reponha e valorize significativamente os salários e os rendimentos de todos os trabalhadores e suas famílias, mas reitera também a sua inteira disponibilidade para encontrar, através do diálogo social, os caminhos que resolvam desde já, e para já, os atuais problemas com que os trabalhadores e suas famílias se confrontam de real perda de poder de compra e de desvalorização abrupta dos salários e rendimentos.
− A UGT, ciente das suas responsabilidades, não pode deixar que o combate à inflação degenere posteriormente em situações de estagnação económica e por isso exige medidas realistas nas políticas de juros de empréstimos para habitação própria por parte das entidades financeiras europeias e do sistema bancário nacional.
Em conclusão, a UGT reitera o seu empenho na obtenção de um verdadeiro acordo sobre competitividade e rendimentos como instrumento fulcral para ultrapassar a difícil situação económica e social que o país atravessa, mas não haverá acordo por parte da UGT caso se pretenda ignorar a questão dos salários.
Leia a Resolução na íntegra no link abaixo
A UGT está preparada para estabelecer responsavelmente um acordo tripartido que possa conduzir a uma real mudança de paradigma, que corrija paulatinamente as injustiças do passado e que responda desde já às dificuldades urgentes que visivelmente se agravam dia-a-dia para milhões de trabalhadores portugueses.
(...)
O Secretariado Nacional reitera a disponibilidade da UGT para se estabelecer um Acordo Tripartido de médio prazo em sede de Comissão Permanente de Concertação Social.
Contudo, espera sinais claros, no curto prazo, de aumentos salariais para os trabalhadores das Administrações Públicas e SEE por parte do Governo e a disponibilidade por parte dos Empregadores para, por via negocial, se proceder a uma real recuperação dos rendimentos e salários drasticamente perdidos pelas nefastas consequências da conjuntura económica que Portugal e o mundo atravessam.
Leia a Resolução da UGT na íntegra no link abaixo
A UGT aceita discutir os problemas da produtividade e da competitividade da nossa economia, como sempre o fez, reconhecendo a sua importância para o País, mas não esquecemos as décadas de aumento da produtividade sem o correspondente aumento dos salários, que o Governo bem reitera nos documentos que enquadram a discussão deste tema.
Para a UGT, o que deve resultar da discussão em sede de concertação social são compromissos claros no sentido de, por um lado, corrigir as acentuadas injustiças passadas na distribuição de rendimentos e, por outro, garantir no futuro aumentos reais de salários e rendimentos do trabalho que nos façam convergir com os nossos parceiros europeus.
Com medidas de incentivo à negociação coletiva; com o fim de uma política fiscal que continua a colocar (e de forma crescente) o grosso do peso dos impostos sobre os rendimentos do trabalho; com uma efetiva penalização das políticas de verdadeiro dumping salarial, de concorrência desleal e de injustificada disparidade entre altos e baixos salários.
A UGT espera que, nesta área fulcral para a dignificação do trabalho, o Governo, mas sobretudo as confederações patronais, cumpram com o verdadeiro espírito da concertação social.
A dignidade dos salários é parte essencial da concretização de uma verdadeira agenda do trabalho digno para os trabalhadores portugueses.
Esse é o objetivo da UGT. Esse deve ser o objetivo da concertação social e de Portugal.
Leia a Resolução na íntegra no link abaixo